UMA HISTÓRIA MARCADA PELA PAIXÃO PELO DESPORTO
A RAMPA DA FALPERRA
A Rampa da Falperra é, atualmente, a prova desportiva mais antiga que se realiza em Portugal.
No início do século XX, as provas de automóveis eram praticamente realizadas em estradas, muitas vezes disputadas entre localidades, e raramente em circuitos fechados.
Nesta altura, surge o desafio pelas rampas que, devido à facilidade da sua execução, rapidamente ganham inúmeros adeptos, por parte não só das organizações, mas também de pilotos e público.
O emergente Automobilismo Desportivo Nacional também acarinhou esta modalidade, tendo surgido em todo o país, incluindo no Norte, diversas provas de rampa, normalmente disputadas em estradas junto às localidades.
É neste contexto que Eurico Santiago Sameiro, um grande entusiasta por novidades, fundador do Sporting Club de Braga e do Aéro Club de Braga, chefia uma equipa para realizar uma prova de Rampa em Braga.
Corria o ano de 1927, quando a EN 101, que liga a Ponte do Bico a Braga, é escolhida para a realização da prova. Na época, esta estrada era em “macadam”.
A prova realizou-se em Novembro do referido ano, sendo ganha por Alfredo Marinho num Bugatti Type 35, que se impôs aos restantes dezasseis pilotos inscritos.

Como resultado do seu enorme êxito, o “Correio do Minho” aceita o repto de organizar uma nova Rampa em 1931. Recorrendo ao apoio do Automóvel Clube de Portugal (ACP), leva a efeito a 2ª Rampa de Braga, ainda na EN 101.
A prova decorreu debaixo de grandes chuvadas e, novamente, Alfredo Marinho impõe o seu Bugatti Type 35 aos restantes pilotos.
Quando parecia que a história parava por aí, o bichinho do desporto automóvel continuava a minar os espíritos mais empreendedores e, em 1950, o ACP é convidado a organizar novamente uma prova de rampa em Braga.
Nesta altura, o Estado Novo não autoriza a utilização da EN 101 e é decidido que a prova seria realizada na estrada da Falperra.
O seu percurso iniciar-se-ia junto ao Picoto ao km37 da EN 309, terminando ao km41, a seguir à zona do Restaurante, totalizando 4km de percurso.
Porém, embora houvesse reconhecimento da estrada, não havia treinos oficiais, e apenas era feita uma subida…um desafio “à homem”!
Assim, a 2ª etapa do recém criado Campeonato Nacional de Rampas, com imenso público a assistir, foi ganha pelo futuro campeão nacional José Soares Cabral num atualíssimo (à época) Allard.

No ano seguinte, a rampa realizou-se com as mesmas premissas, registando nova enchente de público, e o piloto mais rápido foi o aristocrático Conde Monte Real, num potentíssimo Ford V8 de 100cv.

Por motivos menores, surge nova interrupção por mais oito anos, em que o público de Braga ficou sem desporto automóvel à porta.
Em 1960, os clubes da cidade do Porto, com secções de desporto motorizado, decidem realizar uma prova de rampa, e talvez pela dificuldade de realização no próprio concelho, apontam para a Falperra, uma vez que esta localização já tinha provado outrora ser uma garantia de êxito desportivo e de enchente de público.
Sob a responsabilidade da Estrela e Vigorosa Sport, Arte e Sport, Académico do Porto, Sport Comércio e Salgueiros e do Futebol Clube do Porto, a Rampa da Falperra volta a acontecer com o mesmo percurso de 4km, e apenas uma subida válida.
O melhor tempo absoluto pertenceu a José Lampreia, ao volante de um Triumph Tr3, impondo a agilidade e a relação peso/potência da sua máquina, a automóveis bem mais potentes, conquistando também a categoria de Grande Turismo.
A classe Sport foi ganha por Fernando Oliveira, num Austin Sprite, enquanto César Torres impôs um excêntrico Hansa 1100 (Borgward) nos Turismos.

Depois de mais quinze anos de interrupção, em 1976, o Clube Automóvel do Minho (CAM), faz renascer a Rapa da Falperra, com o enorme êxito que se conhece até aos dias de hoje.
O percurso a utilizar conta com 5km, com início ao km39, e o final ao km41 da EN309.
Serão realizadas du7as subidas cronometradas, contando para a classificação o tempo da melhor subida.
Neste ano, a vitória caberia ao saudoso Clemente Ribeiro da Silva, no Opel Comodore GSE.

Em 1977, a vitória caberia a Mário Silva, num Ford Escort Gr2.

Em 1978, a edição passa a ser Internacional, sendo António Barros o piloto mais rápido, num Opel Comodore GSE e, em 1979, a Rampa da Falperra tem como vencedor o espanhol Alberto Gonzalez num Seat, e o imenso público conhece, pela primeira vez, um vencedor estrangeiro.

Nos anos seguintes, a Rampa Internacional conhecerá António Barros num Porsche, também num Porsche Joaquim Moutinho e novamente, em dois anos consecutivos, Alberto Gonzalez num Seat.

Para além da prova a contar para o Nacional da modalidade ganha por Mário Silva, agora em BMW M1, O Clube Automóvel organiza, em 1984, uma segunda prova extra como candidatura ao Europeu de Montanha.

Esta 13ª Edição não acarretou qualquer azar e, com uma organização irrepreensível e o apoio do saudoso Alfredo César Torres, tudo corre pelo melhor.
A FIA passa com distinção a candidatura a integrar no seu calendário a Rampa da Falperra, a pontuar para o Campeonato Europeu de Montanha.
A prova é ganha pelo virtuoso António Rodrigues no Lancia 037, que viria a fazer uma brilhante prestação no Rali de Portugal.

A pontuar já para o Europeu de Montanha, em 1985 o percurso é acrescentado em 200mts, tal como se mantém até hoje, para integrar a famosa curva do Papa, com o intuito de melhorar o espetáculo, totalizando assim 5,2km.
Pelas regras do Europeu, o vencedor passa a ser encontrado pela soma dos tempos de duas subidas cronometradas.
A internacionalização, acrescida do impulso que a RTP viria a promover com transmissões em direto, faz com que a prova passe a ter outra notoriedade, com enormes enchentes de público todos os anos.
O 1º vencedor da Rampa a pontuar para o Europeu de Montanha é o italiano Mauro Nesti, num Osella BMW, vitória que repetiria nos anos seguintes, iniciando um domínio da “barchetas” neste mítico traçado de 1985 a 1988.

De 1989 até 1993, o Rei da Rampa será o espanhol Andrés Vilarinho, num Lola T280, que iniciou uma série de quatro triunfos consecutivos.

Em 93, 94 e 95 o alemão Rudgier Faustman assume a vitória, juntamente com o Espanhol Francisco Egozue em 94, os italianos Fabio Dante e Irlando Pascuale em 98.

Em 1999, 2000 e 2001, Franz Tschager domina por completo o traçado da Rampa, impondo uma condução rápida e espetacular.
Em 2002, a prova é novamente interrompida por motivos de ordem financeira, resultando na retiradas das transmissões da RTP.
Longos e penosos anos privaram os bracarenses e todos os entusiastas que, ano após ano, enchiam as encostas da Falperra, para assistir à mítica Rampa.

Em 2010, já com nova Direção, o Clube Automóvel do Minho decide que uma prova com tanta história não devia acabar assim e, com a certeza do apoio incondicional dos bracarenses, de todos os aficionados do desporto automóvel, de várias instituições e organismos, com especial realce para a Câmara Municipal de Braga, e com a confirmação de integrar novamente o calendário do Europeu, organiza finalmente a 31ª Rampa Internacional da Falperra.
Andrés Vilarinho, com o calor do público local que sempre nutriu por nuestro hermano um carinho especial, acompanhado por uma enorme legião de fãs da Galiza, impõe-se com o Norma M20, com um sabor especial pela quinta vitória na “sua Rampa”!

Tal como a lendária Fenix, a Rampa renasce e assume novamente um papel de referência no desporto automóvel, um verdadeiro cartão de visita de Braga, da Região e do País.
Em 2011, a Rampa conhece um novo vencedor. Pela primeira e única vez, um monolugar (Reynard K02), vindo do campeonato Japonês de F3000, pelas mãos de Fausto Bormolini. Com a sua rapidez bate uma legião de invencíveis barchetas.

Nos anos seguintes, de 2012 a 2018, assistimos ao completo domínio de Simone Fagiolli, que com recordes sucessivos, não deixa margens para dúvidas de que agora é ele o “Rei e Senhor2 da Rampa da Falperra.

Este domínio avassalador foi interrompido apenas em 2016, como consequência de uma forte intempérie que no fim de semana de Rampa assolou esta região, significando um perigo acrescido para a velocidade das “barchetas”.
Consequentemente, originou o pacto de não participação dos pilotos da classe Rainha do Europeu nas subidas oficiais.
Contudo, nem o público, nem Pedro Salvador ao volante do Norma M20FC se amedrontaram com a chuva. Assim, o piloto portuense impõe a sua lei e, 30 anos depois, coloca de novo a Bandeira Portuguesa no lugar mais alto do pódio.

Em 2019, Cristian Merli que nos anos anteriores já vinha questionando o “reinado” de Fagiolli, bate o recorde do traçado e consegue finalmente ser o mais rápido, com uma subida canhão!

Em 2020, a Rampa Internacional da Falperra não se concretiza, devido à pandemia que condicionou a realização de eventos desportivos.
Em 2021, em concordância com a FIA, a Rampa Internacional da Falperra é substituída pelo “MASTERS”.
Com características muito próprias, este evento é a única prova automobilística internacional disputada por equipas de países. Com a periocidade de dois em dois anos, realiza-se num regime de rotatividade pelos países organizadores de provas do Europeu de Montanha.
Por questões de segurança e de autonomia dos carros em competição de vários países, que contavam com depósitos de combustível muito reduzidos, o traçado da Rampa é encurtado para cerca de 3km, mantendo o local de partida e terminando um pouco antes do aclamado “castelinho”.

Com uma Organização com O GRANDE, a merecer elogios das mais elevadas entidades Nacionais e Internacionais, a cidade de Braga presenciou um evento que nos dias anteriores preencheu de vida as suas avenidas, e igualmente viria a encher o traçado com uma enorme multidão de entusiastas aficionados vindos de toda a Europa, nos dias da prova para assistir ao enorme espetáculo que as/os melhores pilotos vindos de 18 países viriam a proporcionar.
Na prova, a França leva o cetro de Campeã, seguida pela equipa da Eslováquia, com a equipa Belga a completar o pódio.
Entre os pilotos, o mais rápido viria a ser novamente o memorável Cristian Merli.
Quem esteve presente como participante ou como espetador, certamente jamais esquecerá o Masters realizado em Braga, que deixa em muitos o desejo de voltar a concretizar-se em Braga, neste traçado.
Na história da Rampa, para além de todos os pilotos que já nela participaram, os “pilotos da casa” têm já uma notoriedade especial.
Sempre acarinhados pelo seu público, torna-se impossível referenciá-los a todos.
No entanto, seria injusto, quer pela sua popularidade, quer pelos resultados obtidos, não citar os nomes dos vitoriosos “pilotos da casa”, tais como Rui Lajes, Nelson Cruz, Adriano Barbosa, António Vasconcelos, Pedro Rodrigues, Rogério Peixoto e Hugo Peixoto em tempos mais idos.


Em tempos mais recentes, citam-se os nomes de Rui Costa, Patrick Cunha e Pedro Loures, entre outros, que muito contribuíram para a mítica e inesquecível história da Rampa da Falperra.

Por último, jamais se poderia falar da História da Rampa da Falperra, sem uma enorme referência a um Público com “P grande”.
Um Público constituído por portugueses e espanhóis, mulheres, homens, adultos e crianças, verdadeiros “aficionados” que sempre acarinharam a Rampa, perpetuando um evento que é já “tradição” de várias gerações, uma verdadeira paixão que passa de pais para filhos e que faz parte da vivência de inúmeras famílias.
É este público que, ano após ano, contribui de forma inexcedível para que o fim de semana de Rampa resulte numa verdadeira festa.
Um público que vive a Rampa com fervor, aproveitando para vibrantes convívios, usufruindo do espetáculo, respeitando os limites de segurança e transformando este mítico evento numa festa de família, numa festa do Povo, num perpetuar de história que já acompanha a cidade de Braga desde há várias gerações.

É, portanto, este Público que justifica o enorme esforço e dedicação empreendidos na realização deste evento.
A atribuição de sucessivos Troféus de Reconhecimento Público vem reconhecer o grande esforço, empenho e qualidade com que o Clube Automóvel do Minho sempre se entrega na sua organização.
Refira-se que, “numa espécie de cereja no topo do bolo”, a Ferrari integra no roteiro que sugere aos seus clientes, a subida do percurso da Rampa da Falperra – um verdadeiro percurso além-fronteiras, que conquista aficionados e turistas por todo o mundo, não só pela sua paisagem deslumbrante, mas também por toda a história que nele já se fez!